A morte
Inevitável porém
pouco aceitável por muitos mortais.
Não quero parecer
frio, mais se assim for, atribuo a minha longa experiência
profissional em Unidade de Terapia Intensa ( UTI), lidando com a
morte diariamente.
Para muitos este
ambiente já é o fim da vida, a porta para o cemitério, o que é
uma grande mentira, pois diante dos avanços médicos e da fé da
cada um, já vi pessoas em estado gravissímo meses depois sair
andando e agradecendo pelo cuidado.
Em contra partida, uma
situação me incomoda e gera uma discussão, pois existem pacientes
em estado pior que gravissímo, já em estado de decomposição,
fétidos, vivendo por ajuda de aparelhos e medicamentos, com
familiares cheios de esperança e otimismo, acreditando piamente que
seu ente querido um dia irá voltar pra casa.
Me pergunto. Será que
este familiar se pois no lugar do outro por um minuto? Será ele
egoísta demais? Seria Ignorante a ponto de não perceber a real
condição clinica de seu familiar? Ou quer se isentar de
responsabilidade diante da solicitação para desligar os aparelhos?
Partilhando minha
indignação com um médico, o mesmo atribui tamanha esperança a
falta de conhecimento técnico sobre as doenças, tratamentos e
medicamentos. Então devolvi a questão, você como médico não
explica a real condição clinica do paciente? A resposta é, para
eles leigos, a esperança é a última que morre, acreditam que o
quadro pode mudar, e reabilitação acontecer.
O tema humanização é
muito utilizado no ambiente hospitalar, pois tem como proposta
garantir ao paciente um ambiente tranquilo, acolhedor, confortável,
mais pouco se refere aos cuidados paliativos, e ao acompanhamento de
psicologia hospitalar aos familiares, que não aceitam a condição
clinica do familiar e os submetem a procedimentos invasivos que
prolongarão por dias ou semanas a morte, não acho humano uma pessoa
se decompondo vivendo apenas por auxilio de aparelhos.
Alguém pode estar me
perguntando. E se fosse sua mãe? Seu pai? Seu Irmão?
Diante do amor que
tenho por eles, e da condição em que se encontram clinicamente
falando não permitiria tamanha agressão ao seus corpos. Existem
combinações medicamentosas que os aliviariam de toda dor e
sofrimento, e não exitaria um minuto em dizer ao médico que
prescrevesse, duvido que algum se recusaria, pois também não
gostariam de estar apodrecendo em um leito. É importante salientar
que todos aos profissionais de saúde estudam e trabalham para a
recuperação da saúde em prol da vida, mais infelizmente algumas
condições clinicas são irreversíveis e degenerativas, eu não
prolongaria a dor e o sofrimento simplesmente pelo fato de não
aceitar a perda, ou achar que investir tudo o necessário reverteria
o quadro, talvez sirva de conforto pra quem fica, mais não acredito
que seja confortável pra quem foi, acho digno a pessoa morrer
íntegra fisicamente, pois não consigo ver humanização em alguém
com o dobro do tamanho (inchada), perdendo líquidos por todos os lados, apodrecendo em feridas, com drenos
em todo o corpo, totalmente desfigurada.
Aos leitores deste
desabafo, deixo o assunto aberto ao debate. Vida longa e abraço
fraterno a todos. Marco Antonio